domingo, 14 de outubro de 2012

     Que vizinhos deveras festeiros! Quanto ruído! Gostaria de estar a estudar música, mas então tive uma ideia: tentar entender minha caligrafia de manuscritos antigos e passá-los para a máquina.

     Eu devo ter falado algum dia que estou a compilar meus escritos e a produzir mais deles para que no próximo ano consiga publicá-los. Eu sonho!
     Esse sonho começou quando minha professora de língua portuguesa disse que eu poderia ser o membro mais novo da Academia Cabense de Letras.

     De fato, divirto-me com títulos como "A História de Vêz" ou "Prólogo Soliloquial dum Educando Individual de Filosofia".

     Agora, encontrei algo. O nome do escrito é "Círculo: Título Realmente sem Título". Ele é uma daquelas coisas que se encontra em estupefação e descrença pelo que se vê. Indago-me: realmente escrevi isto? Céus! Eu tinha 14 anos quando o escrevi e estava no intervalo da escola. Falo um pouco da minha sexualidade no final, eu estava em conflito comigo mesmo. Foram bons tempos de grandes descobertas. Leiam-no:

Estou e não estou. Sub-existo, assim como meu espaço, que meu nada é. Tudo e nada importa numa lógica ilógica que, sobretudo, sempre é lógica. Mas a nossa lógica ocular não é capaz de entender. O quê? Sei lá! Minha escrita é inconsciente. Sei que sub-existo neste círculo, vácuo, espaço tão cheio, mas tão inóspito e..., digamos..., qual a palavra mesmo? Ah, "circuloso". Mas voltando ao assunto, vocês, celuloses, provavelmente observaram a minha distração de espírito. O que é espírito? Falo espírito de espírito mesmo e não espírito. Pare Inquisitividade! Desejo voltar ao assunto e ponto, mas não este ponto, esse.
      Agora é o verbo ser, pois a minha distração de espírito cansou-me — insisto —, Pare! O que eles pensarão? Bom, mas voltando ao assunto celulose. O que eu sou? Para resumir? Tudo bem. Estou no intervalo e quero aproveitar este breve espaço de tempo para ler. Mas quem quer saber, não é mesmo? Ah, quem me dera se ela soubesse: loucura consumível alheia. Ah, se elas soubessem, ou melhor, se eles soubessem que eu sou essa Sinfonia de Marcianos do Absoluto de Nada.

     

Mudança

     Foram nove anos. A mesma casa, as mesmas paredes. Tudo tão futurista, porém de cariz neoclássica. Os dramas, as felicidades, as lágrimas evaporadas naquele ambiente tão microscópico e quadricular como um caixa. Tudo isso que fora citado vem na mente dele como um sussurro já ecoado e morto pelos ares.

     Em meio ao caos ele escreve. Livros empoeirados sobre a mesa do computador e livros descolados de seus originais lugares como a sua memória ressuscitada de um deus egípcio tão empoeirado pela modernidade quanto seus livros.

     Ele deseja mesmo é estar dentro de uma das caixas e ser extraviado a algures — mas eu estou cá a escrever-vos.

     Um pesar. Um conflito. A vontade é de vociferar por silêncio. Mas eis que vem-lhe a ideia do paradoxo dessa atitude. Ele está perdido, e sem chances de encontro consigo mesmo. Por onde ele vá, está perdido. Ao menos quando ele está só, pois nesse momento ele se encontra como num choque — A vontade que sinto é de gritar por silêncio. É um paradoxo, eu sei. Por isso não o faço. Estou perdido. Estou nalgum lugar desse planeta. E que desastre será se eu não estiver nesse planeta. Essa última  ideia de modo algum pode ser fato consumado, pois eu tenho certeza que encontro-me comigo mesmo quando estou só —.

      Ele vai, mas não sorridente. Até faz sorrir, por educação  — porém, sinto-me deixando algo perdido dentro das paredes marcadas pelo silêncio e pelo grito do olhar da alma —.

     Um amor. Uma esperança. Um futuro. Feliz aqueles que aproveitam o instante, e que, portanto, tem a vivacidade de um rio.

     Não é só cólera. É melancolia o que ele "sinto". Distância de si...
  
     Agora ele percebe que está a abandonar uma nação que nunca fora sua, que nunca tornou-se parte integrante de seu ser, que nunca encarnou nele sem nunca pedir permissão ao encarnado; agora, só depois de nove anos — ou seria " só depois de dezesseis anos, já que, talvez, eu teria consciência de ser um sem-teto, um sem-casa, desde a tenra idade —. Quiçá, encontre a minha casa quando o Sol acabar, finalmente, com esse planeta, quando os meus últimos átomos espalhados pelos jardins, pelos solos e pelos outros animais do ecossistema sejam calcinados pela estrela que esquentou-me e movimentou a coisa que chamo de "eu". Encontrar-me-ei quando o "quando" se tornar, enfim, "quando passado".

— Foram dezesseis anos. Porém, só agora ele percebe que está a abandonar uma nação que lhe exilou. Sério, ainda bem que eu amo. Ainda bem que estou perdido e só, pois, de outro modo, não amaria. — Digo para mim mesmo pensando: " Foram nove anos... por isso eu escrevo"

P.S.: O blogue é todo piegas, mas esse foi o poste mais íntimo escrito por mim.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"Os Espelhos", "Por Não Estarem Distraídos" e Memórias Delicadas

     Estou na Biblioteca do Estado de Pernambuco ou Biblioteca do Castelo Branco. O Wi-Fi é ótimo!
    Larguei, pois costuma-se largar cedo em semana de recuperação do que foi academicamente perdido pelos "perdidos academicamente", e estou aliviado por estar positivamente azul e atualizado em todas as disciplinas acabarei tendo sangue azul.
     Depois de escrever esse poste, estudarei um pouco de história e terminarei de compor algumas músicas.

     Como prometi no poste do vigésimo quarto dia de setembro,   estarei a postar as crônicas do penúltimo livro de Clarice Lispector lido este ano, "Para Não Esquecer". Esse livro de Clarice reúne crônicas, fragmentos e relatos escritos por ela.   
     Muitos escritos publicados ali são relatos e experiências do relacionamento com seus filhos ou podem ser a designação do mistério, do desconhecido e a exploração do cotidiano, que, nas mãos de Clarice, torna-se uma tragédia cósmica. Nesse livro, encontrei muita coisa já lida em "A Descoberta  do Mundo", livro integrante da inspiração desse blogue e digerido três vezes por mim.
      Selecionei 22 textos entre os mais de 110 contidos no livro. Ao decorrer dos postes, publicá-los-ei com pequenas resenhas ou sem pequenas resenhas.
      No dia em que fui inserido na cultura de nossa civilização, postei Futuro de Uma Delicadeza. Hoje, eu postarei Por Não Estarem Distrídos, que mostra bem a situação (expressada aqui) que deixava-me com medo de ter "ciência dita" do meu amor por alguém; e postarei Os Espelhos.

     Leiam os textos já citados e escritos por Clarice Lispector:

Os Espelhos


" O que é um espelho? Não existe a palavra espelho - só espelhos, pois um único é uma infinidade de espelhos. - Em algum lugar do mundo deve haver uma mina de espelhos? Não são precisos muitos para se ter a mina faiscante e sonambólica: bastam dois, e um reflete o reflexo do que o outro refletiu, num tremor que se transmite em mensagem intensa e insistente "ad infinitum", liquidez em que se pode mergulhar a mão fascinada e retirá-la escorrendo de reflexos, os reflexos dessa dura água. - O que é um espelho? Como a bola de cristal dos videntes, ele me arrasta para o vazio que no vidente é o seu campo de meditação, e em mim o campo de silêncios e silêncios. - Esse vazio cristalizado que tem dentro de si espaço para se ir para sempre em frente sem parar: pois espelho é o espaço mais fundo que existe. - E é coisa mágica: quem tem um pedaço quebrado já poderia ir com ele meditar no deserto. De onde também voltaria vazio, iluminado e translúcido, e com o mesmo silêncio vibrante de um espelho. - A sua forma não importa: nenhuma forma consegue circunscrevê-lo e alterá-lo, não existe espelho quadrangular ou circular: um pedaço mínimo é sempre o espelho todo: tira-se a sua moldura e ele cresce assim como água se derrama. - O que é um espelho? É o único material inventado que é natural. Quem olha um espelho conseguindo ao mesmo tempo isenção de si mesmo, quem consegue vê-lo sem se ver, quem entende que a sua profundidade é ele ser vazio, quem caminha para dentro de seu espaço transparente sem deixar nele o vestígio da própria imagem - então percebeu o seu mistério. Para isso há-de se surpreendê-lo sozinho, quando pendurado num quarto vazio, sem esquecer que a mais tênue agulha diante dele poderia transformá-lo em simples imagem de uma agulha.Devo ter precisado de minha própria delicadeza para não atravessá-lo com a própria imagem, pois espelho que eu me vejo sou eu, mas espelho vazio é que é espelho vivo. Só uma pessoa muito delicada pode entrar num quarto vazio onde há um espelho vazio, e com tal leveza, com tal ausência de si mesma, que a imagem não marca. Como prêmio, essa pessoa delicada terá então penetrado num dos segredos invioláveis das coisas: Vi o espelho propriamente dito.E descobri os enormes espaços gelados que ele tem em si, apenas interrompidos por um ou outro alto bloco de gelo. Em outro instante, este muito raro - e é preciso ficar de espreita dias e noites, em jejum de si mesmo, para poder captar esse instante - nesse instante consegui surpreender a sucessão de escuridões que há dentro dele. Depois, apenas com preto e branco, recapturei sua luminosidade arco-irisada e trêmula. Com o mesmo preto e branco recapturei também, num arrepio de frio, uma de suas verdades mais difíceis  o seu gélido silêncio sem cor. É preciso entender a violenta ausência de cor de um espelho para poder recriá-lo, assim como se recriasse a violenta ausência de gosto da água."

Por Não Estarem Distraído



     Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.

     Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.

     Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto.

     No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.
Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.
     Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

     Este último texto lembra-me tantos momentos belos. Lembra-me o dia no qual voltamos, eu e meu amado amigo, duma palestra acerca de Música e Religiosidade.

     Foi um dos dias mais belos que já tive em sua companhia. Não pelos roteiros turísticos de Recife que recebem nossos pés diariamente, mas por vê-lo atencioso, ao meu lado, natural, por vê-lo almoçar comigo, por partilharmos vivências, por vê-lo sonolento a oscitar . Disse-me ele que "...passei a noite acordado. Eu fui ao cinema com minha irmã e voltamos tarde". Deu para perceber que eu também passei a noite acordado e como quis deixar claro o quão semelhantes somos, não deu?  A diferença é que passei a noite acordado por não conseguir esquecer que passaria todo o dia com alguém que fazia-me deixar intrigado, com alguém que fez-me ganhar a perna inútil que G. H. perdeu num momento de apreciação da êxtase d'outrem.

     Estava a ocorrer, no Marco Zero, um festival internacional de teatro de objetos. Fomos. Mas fomos com a esperança de ver Hermeto Pascoal de pertinho e num show com poucas pessoas após o encerramento das representações. Ele não poderia ficar, pois estaria tarde demais para ele voltar ao seu bairro. Eu ofereci táxi com minha companhia até a porta de sua casa. Mas ele disse "... minha mãe pediu para sair do centro às 21h e o show começa às 21h30min. É muito importante para mim, mas não sou como você que não tem horário para chegar." Como reposta, disse rindo e ironicamente que sou um ser emancipado.
     Só para ficarmos juntos mais tempo, tivemos a ideia de duma ida à Livraria Cultura do Shopping Paço Alfândega.

     Senti seu hálito doce. E desejei seu hálito no meu quarto, em qualquer lugar no mundo. Não desejei em mim, a esbarrar nos meus lábios. Desejei-o nos ares do meu quarto e desejei estar perto dele para sempre.
     Lemos algumas revistas. Ele leu artigos científicos sobre física quântica e eu li sobre civilizações pré-colombianas em revistas de história e arqueologia.
     Conversamos acerca da razão de existirmos; então vimos que já estava na hora de partir. Saímos à parada do autocarro, expressando em dizeres nossas elucubrações acerca da existência. Quando o vi sem mais a dizer, eu prometi que em cinco minutos escreveria algo sobre as razões da existência com duas das minhas três palavras preferidas, que são "cerne" e "sobrepujar". Já estávamos longe da Livraria quando eu pedi para que ele segurasse meu braço direito enquanto eu escrevia com a mão do braço esquerdo, pois haveria a possibilidade de beijos duros entre eu e o chão. Escrevi. Noutro dia, peguntei do destino daquele papel com minha caligrafia rabiscada. Ele disse que queimaria, mas decidiu primeiro pôr no computador e depois guardar a folha. Só agora, enquanto escrevo, é que observo que deveria perguntar o motivo do fogo com o papel.
     
     As pessoas passavam entre nós dois, agitadas, para ver Hermeto Pascoal. Então, tocamos e nos tocamos esmagados. Falávamos acerca de cousas quaisquer; ríamos. Decidimos apreciar a água negra do Rio Capibaribe. Gosto da "música da água".

     Acho que está na hora de parar. É demais para mim. Estava a suprimir muitos pormenores para mim mesmo, não por serem proibidos de publicações na Rede, mas por sentir demais enquanto escrevo. Suprimia detalhes pois ainda ( "ainda" é minha terceira palavra favorita, revelo) temo afogar-me em meus mergulhos no mar existencial onde eu encontrei meu Amado Amigo. Ele disse-me que um dia poderia me ensinar a nadar. Ele ama natação. Sou um tanto sedentário, mas sempre quis ter disposição para praticar esportes. Minha mãe diz que, na verdade, eu sempre quis alguém para praticar esportes comigo. De qualquer forma, nesses tempos de lições de natação, se eles existirem, já estarei nadando muito bem no meu mar existencial.
     Agora só posso dizer que o abracei na despedida; depois fui ao show de Hermeto Pascoal.

     Acho que, pelo o que eu escrevi por cá, vós pensais que o que escrevi nos parágrafos anteriores não possuem tanto a ver com "Por Não Estarem Distraídos" de Clarice Lispector. Só os detalhes suprimidos por mim, como no susto da súbita descoberta, de modo consciente, mostrariam as razões e justificativas das minhas lembranças associativas.

    Seu eu continuar lembrando assim, ninguém vai aguentar ler nada do que escrevo.

     Estou calmo, como recomendou o Cesinha. Se não estivesse assim, já teria gritado ao mundo o meu amor. Por estar calmo e por deixar ir-me navegando até a foz do Rio Capibaribe para que o nosso amor seja um rio fluindo e fluindo é que não estou a gritar o meu amor. Que correnteza!

     Hei-de postar algumas fotos dos lugares citados cá:

Ponte Maurício de Nassau, Recife  - PE. Por Francisco Edson.

Vista da Ponte Maurício de Nassau (primeiro plano) a partir da perspectiva do Velho Recife sobre a Livraria Cultura. Por Sério Menezes.
Interior do Shopping Paço Alfandêga, Recife - PE. Por Sério Menezes.

     Descarreguei um leitor de Feeds em meu computador. Agora: como tenho blogues para ler! Já gostava da "Blogsville", e gosto ainda mais agora que estou menos "tímido" por cá.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cabo, a 9 de outubro de 2012. 1h43min AM.

     Todos os meus pensamentos estão quase que dominados por ele. Só penso nele.
     Vi suas fotografias antes de escrever cá. Alivio-me com elas, pois, além de meus pensamentos, elas são o único modo de estar mais perto dele atualmente.

     Penso constantemente no tom de voz no qual será dito "eu te amo" para ele. Penso no que ele está a fazer agora. Será que está lendo? Ou está a assistir um dos episódios de um dos seus seriados favoritos, o chamado Dexter? Está ele deitado na cama a pensar em mim? Disse-me ele que há uma janela em seu quarto por onde é possível ver a lua e as estrelas. Será que ele pensa em mim enquanto encanta-se com o céu? Será que ele está a beber água? Talvez ele simplesmente está virando-se na cama, suado e a sonhar. Com o quê? Será que ele imagina muitos acontecimentos e viagens que já planejamos fazer? Será que ele imagina os acontecimentos delicados entre nós? Será que todas as indicações dadas por ele acerca de seus sentimentos para mim como, por exemplo, uma mensagem dizendo que ainda sou apenas amigo dele, sou coisas da minha mente? Será que ele me ama? Qual o motivo que o faz não pronunciar as palavras reveladoras de segredos secretos? Espera por mim? Bem, eu já não aguento mais. Eu preciso dizer que o amo.

     Num correio eletrônico, disse para ele: "... considero-te uma pérola que encontrei entre as relutantes areias no fundo de meu extenso, profundo e tempestuoso mar existencial.
     Pérolas são preciosíssimas. E por-te dentro duma pérola é pouco, mas não é a hora de fundir átomos para criar estrelas. Elas são complexas para esse tempo entre nós. É melhor deixar o Universo nebuloso, por ora.

     Hoje fui para uma linda praia deserta — pretendo contar noutro poste acerca dessa ida para lá e dos idos tempos que passaram-se sem um poste por cá. Vi uma conchinha entre a areia molhada sob a espuma da água salgada. Pensei nele; depois pensei em presentá-lo com a conchinha. Um dia o presentarei com um ramalhete de rosas brancas (amamos rosas brancas) com muitas conchas.

     Agora, postarei as fotos da praia onde eu estive apenas cinco minutos, durante o ocaso, por causa da agenda e as fotos da conchinha sobre a minha mão tiradas nesse momento.

Praia do Paiva, Cabo de Santo Agostinho - PE. Foto retirada daqui.

Praia do Paiva, Cabo de Santo Agostinho - PE. Foto retirada daqui.

Praia do Paiva, Cabo de Santo Agostinho - PE. Foto retirada daqui.

Praia do Paiva, Cabo de Santo Agostinho - PE. Foto retirada daqui.



A conchinha que encontrei.

sábado, 6 de outubro de 2012

Gaston a citar d'Annunzio

"Acontecimentos mais ricos ocorrem em nós muito antes que a alma se aperceba dele. E, quando começamos a abrir os olhos para o visível, há muito já estamos aderentes ao invisível."


BACHELARD, Gaston A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Tradução: Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1998 (Tópicos) pp. 17-18

Dois mestres em duas páginas. Isso é demais para mim!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Correios Eletrônicos, Michael Nyman e Gerald Jay Markoe

     Quinta hora do quarto dia de Outubro. Vou fazer um lanche, depois de ler um correio eletrônico. Eu o li já várias vezes. Não canso-me de lê-lo.
     Passei a noite estudando, ou melhor, o dia. Extasiava-me enquanto tocava escalas de três oitavas ao som da chuva noturna. Som de água caindo mais o som de meu violino só pode resultar num intenso orgasmo em mim, rsrs.

     Estou sem sono.

     Estava muito desanimado. Durante a vespertina do dia anterior, chorei ao abrir minha agenda de compromissos. Tudo lembrava-me a pessoa que há sete dias que sequer escuto a voz.

     À noite, tudo muda. Como não gosto de celulares, acabo perdendo-os. Nesse período do dia, achei o meu celular que estava perdido. Na tela inicial dele, pude notar que havia vinte e três chamadas não atendidas. Liguei para o número e soube que era o G., desesperado por não ter contato comigo a alguns dias.

     Conversamos e conversamos. Comentamos sobre a Lua. Vimos e nos encantamos juntos com um meteoro a queimar na atmosfera terrestre. Sentimos o encantamento um do outro apenas pela agitação e euforia da voz; depois falamos acerca da pessoa que não fazia mostrar-se existir a alguns sete dias. O G. demonstrou sentir minha aflição. Antes do fim da conversa, marcamos de assistir a uma récita, A Flauta Mágica de Mozart, no domingo. Fomos embora,  então, numa despedida calorosa e que parecia nunca acabar.

     Tudo muda. Até sinto-me um tanto mais animado. Sinto-me mais animado, apesar dos pesares. Quando isso acontece, seleciono umas músicas e as aprecio profundamente.

     Voltando ao correio eletrônico do primeiro parágrafo. Postarei um pequeno trecho que sempre entra em meus recentes e aflitos pensamentos:


"...a palavra é bruxaria nas ásperas mãos das pessoas. A abstração da palavra revela cruamente vergonhas celestiais e também traz maná dos céus aos famintos."

     Faz um bom tempo que gostaria de postar trecho d'outro correio eletrônico. Ocorreu que a pessoa que deveria lê-no nunca, de fato, o fez. Eu dediquei muitos minutos escrevendo-o. E então, para que ele não ficasse ao nada, decidi postá-lo cá.
     O trecho do correio trata de dicas musicais. Tais dicas, agora, hão de ser dadas a vós. Antes, desculpem-me pela marcação branca do texto e pelos possíveis erros que encontrarão no texto transcrito — eu nunca o li depois de escrito. Vejam:


"...

Doze dias depois retomo a escrita deste E-mail que estava em meus rascunhos.


Nas últimas duas semanas, venho apreciando dois discos que eu, sinceramente, gostaria de partilhar com você.  O primeiro disco trata-se de três quartetos para cordas do compositor, pianista, libretista, e musicologista contemporâneo-minimalista britânico Michael Nyman. Como a senhora deve saber, ele compôs muitas trilhas para filmes. Entre elas, está a trilha do filme Gattaca, por direção do cineasta zelandês Andrew Niccol, que trata duma sociedade num futuro não tão longínquo onde os seres humanos são escolhidos geneticamente em laboratórios e onde pessoas concebidas biologicamente são consideradas inválidas. O filme claramente demonstra uma preocupação com a eugenia e com o desenvolvimento tecnológico no campo da genética. É um ótimo filme de ficção-científica. Segundo Matthew Shorter, pianista e crítico musical da BBC (cujo microblogue eu sigo, @lifestooshorter), "this music is supple, brilliant and flawless" — "esta música é flexível, radiosa e sem defeitos", em tradução livre —.  O disco que tenho em mãos é uma interpretação  do Balanescu Quartet. Ele é um grupo musical vanguardista que interpreta compositores contemporâneos como Philip Glass. Eles são altamente recomendáveis.

Num website de hospedagem em linha de ficheiros eu postei o arquivo .rar do disco cujos faixas estão em formato .mp3. Descarregue-o e boas apreciações: http://www.mediafire.com/?ozfrdda649plg7c

O segundo disco é New Age ou quaisquer outras gêneros de nomeações que preferes adotar. O compositor é Gerald Jay Markoe. As composições em primeiras impressões são exóticas para a maioria das pessoas. 

Eu gosto de ficção-científica e sou cientificista. Gosto de investigar e analisar o Universo de um modo mais realista e racional possível. Também escrevo ficção-científica. E como todo amante desde gênero e da ciência, especialmente física e astronomia, sinto falta de relações entre as retratações artísticas e as atuais artes. O cinema está bem relacionado assim como a fotografia, o teatro, e a dança de um certo modo. As artes visuais como pintura, arquitetura e escultura estão bem relacionadas com a ficção-científica e até possui íntimas relações. Mas a música..., e a música erudita? Na música, vê-se poucas representações. As composições que possuem relações com este gênero geralmente não minimalistas ou doutros estilos contemporâneos. A música contemporânea não é tão popular quanto os outros estilos eruditos do barroco, clássico e romântico. A neurologia prova que a nossa consciência, centelha da condição humana, vive milésimos de segundos no passado (http://www.jornalciencia.com/saude/mente/1774-por-que-voce-provavelmente-nao-ira-sentir-a-sua-propria-morte-traumatica). E eu vejo isto nas artes e na música também. Os estilos artísticos de nosso século, especialmente os estilos musicais, estão presos no passado. Eles estão mortos para o tempo corrente. Como? Não se vê composições sobre planetas inspirados na ciência. Vê-se famosas as composições de G. Holst acerca dos planetas do nosso sistema solar que na verdade são inspiradas em astrologia e mitologia greco-romana.

Lá estão poucos compositores que fazem escrever sobre ciência de um sóbrio modo. Não se vê composições sobre civilizações extraterrestres, exoplanetas, física quântica e teorias vanguardistas como a da Energia Escura, Matéria Escura e as teorias de universos paralelos.

Entre tudo isto, está o Gerald Jay Markoe (http://userserve-ak.last.fm/serve/_/26711349/Gerald+Jay+Markoe+markoe.jpg). Compositor New Age que nasceu no Brooklyn - NY, onde também nasceu outro magno homem da humanidade, Carl Sagan. Ele descobriu a "astro music", cujos fundamentos musicais são baseados nas posições dos planetas do nosso sistema solar. Correntemente, está trabalhando num livro sobre o assunto e já publicou vários artigos e dá muitas palestras e concertos acerca da "astro music". Ele também criou sua própria companhia musical, AstroMusic, para gravar sua composições e trabalhos. Ele, sem dúvida alguma de minha parte, é conhecedor da Teoria dos Antigos Astronautas. Ele é um compositor constantemente conectado com o Cosmos, eu falo sob uma perspectiva científica e esotérica. Eu possuo apenas dois de seus vários discos, eles são: Meditation Music of Ancient Egypt e Ancient Cerimonies. 

O primeiro não busca reproduzir fielmente a música do Antigo Egito, mas produzir e criar novas composições a partir do que se tem registrado da música do Antigo Egito. 

Eu ainda não ouvi o segundo disco, então não posso falar sobre ele agora. Mas há outro disco que quero muito apreciar e não consegui encontrar lugar algum na internet, ou melhor, não consegui encontrar em nenhum dos sítios de países externos na internet. Titula-se o disco de "Music from the Pleiades". 

O título sugere sua característica mais notável, suas composições são inspiradas em supostos estilos musicais de civilizações extraterrestres da família das sete estrelas localizadas na constelação de Touro , 400 anos-luz distante da Terra, também muito conhecida como "The Pleiades"(http://www.nasa.gov/multimedia/imagegallery/image_feature_801.html). Eu nunca vi nada semelhante a isto. Então, se a senhora já ouviu falar em música inspirada em estilos musicais de civilizações extraterrestres pode me dizer pois estará retirando de mim esta minha pasma expressão que estou cá já. Dei uma olhada no sítio da Livraria Cultura e o encontrei para venda, acho que finalizarei esta história fazendo uma encomenda ou pedirei para uma amiga de minha mãe que trabalha nos Estados Unidos comprar mais em conta lá e trazer a mim em um feriado qualquer.

Adiante, eu postarei o disco abaixo. Podes abaixá-lo em seu computador e apreciá-lo. Boas apreciações: http://www.mediafire.com/?nnaa07382387q9t "

..."

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

     Descobri que gosto muito de estar só. Sinto-me melhor só. Sinto sem motivos.

     Estou doente e de licença médica, então passei o dia organizando minha vida. Estive organizando coisas que não necessitavam de muito esforço físico.
     Houve algo que deixou-me embaraçado, tonto e que desorganizou-me no mundo físico. Algo que eu há alguns dias atrás temia escrever acerca. Esse "algo", que deixará de ser algo com o próximo verbo escrito na terceira pessoa do singular, é alguém.

     Ele tem meus pensamentos, tem uma música escolhida por mim, tem páginas de meu bloco de anotações que falam acerca de ele, tem minha perdição nele, tem minha ansiedade... e tem o meu amor.
     Sobre a ansiedade, decidi que hei de me acalmar um pouco. Afinal, muitos momentos ainda ocorrerão. E como sou e estou dramático!

     Minha mãe chegou de viagem hoje. A sua volta foi decisiva para definir algumas coisas em mim: gosto de casa vazia, silêncio — isso não é muito novo —, da inércia, da ausência de movimentação e das paredes.

     Depois dessas definições, pude começar a indagar do meu comportamento, quando estarei milhares de quilômetros de minha casa, num quarto de brancas paredes a refletir a cor da minha alma. Algumas questões não foram solucionadas, mas sei que  escreverei acerca do silêncio e da ausência de vozes que não a minha. Sei também que não precisarei estar sob o chuveiro para escutar o som de águas a correr. O silêncio há de ser o som das águas a correr e há de ser sem corvos, pois silêncio não é preto como os rios urbanos à noite.

     Estou em dúvida se compro uma máquina datilográfica ou um Netbook para escrever quando estiver longe.

     A minha garganta agora dói muito. Dói nunca ter mostrado para ele a música que ainda é nossa, só nossa.
     Ela é de Tiê. Ela é uma outra versão de "Te Valorizo", chamada "Te Mereço" e já postada  por cá. Deleitem-se:


Até a próxima!

P.S.: fui menos enigmático??

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Um pouco da minha terra

     É um sonho de criança ser assistido por Ariano Suassuna. 

     Esse concerto armorial de Sérgio Ferraz, professor do Conservatório Pernambucano de Música, abriu-me algumas luzes e saudades também. Sinto saudades da minha terra que, provavelmente, deixarei para trás em alguns meses. Esse concerto, enquanto elucidativo, fez-me indicar minha localização geográfica como compositor.
    Apesar das palavras anteriores, não quero começar a ser tentado a escrever uma análise. Amo a noite com as análises que faço.

     É melhor ficarem com o concerto pois a tela do computador é rasa demais para mim:



Conversa comigo mesmo

— "Professor, me desculpe. É que eu estou numa fase de transição. Está tudo muito difícil e minha vida está uma correria, como sempre. O Sandro saberia bem do que eu falo. Tudo vai normalizar. Em breve..."

...

— "Meu Deus! Mãe!, nunca imaginei que era tão bom ficar assim, só. Preparar o próprio almoço é ótimo. A noite ficou mais bela, ela se tornou minha. Não me senti tão só. Vai para a casa da praia próxima semana também? A senhora precisa relaxar."

     Vou por leite no copo; penso nele. Enquanto isso, começo a imaginar uma situação na fila do Teatro.
     Como sempre, ele chegava por trás e me dá um susto com suas mãos tocando subitamente a minha espalda. Entre as conversas, nos embaraçamos ao percebermos que estamos a entrar em caminhos que revelam os segredos secretos sobre nós, escondidos com sutileza dentro de ambos. O olhar manso dele. O olhar absorto meu; rimos, então.
     Ao sentir o leite na minha mão, volto para esse mundo onde escrevo isso agora. Tenho uma ideia, repentinamente. Uma grande descoberta estava por vir. Eu, inocente que sou, nem imaginava. O destino é cruel, e, apesar de sentir fortes dores de cabeça com o aroma de algumas rosas, eu sempre imaginei que o céu era feito de pétalas brancas.
     Vejo uma gota de leite cair sobre a mesa da cozinha e a tomo com o dedo para pô-la em degustação na boca. Eis a descoberta:

— "Leite sem açúcar não é gostoso. Não gosto de leite sem açúcar."

sábado, 29 de setembro de 2012

A Inacabada

     Ela marcou a minha vida. Quase tanto quanto ele. Ele, por sua vez, provou que eu podia amar. O segundo movimento dela, mostrou-me que as angústias do primeiro movimento são superáveis.
     Ela é a Sinfonia No. 8 em Si Menor do compositor germânico Franz Peter Schubert. Ele... Ele é só ele mesmo.

     A primeira vez que a apreciei em direto foi ao dia 18 de Setembro no Teatro Santa Isabel com a minha amada Orquestra Sinfônica Jovem do CPM. Meu professor particular, chefe de naipe, estava a interpretar também. André Muniz, regente convidado do concerto,  conduziu muito bem a orquestra na interpretação d'A Inacabada.

     Ela, a Sinfonia, fez-me emocionar e molhar a face de lágrimas no primeiro movimento. Memórias e memórias. Sentimentos e palavras. A agudez dos momentos mais noturnos da vida.
     Já no segundo, lembrei que podemos transformar as agudezas em canções de ninar. As lembranças também trouxeram para a consciência que existem raios solares para quebrar a escuridão da noite. E de novo chorei.
     Eu não resisto e vocifero "bravo" no final. É claro que ele existe para cousas extremamente excepcionais, mas até a menos notável beleza torna-se excepcional para mim.

     Vai, em sequência, a interpretação completa da Oitava Sinfonia de Schubert. Bom deleite!


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

     Estou atrasado no mundo virtual, eu sei. Estou atrasado em todo o mundo virtual. Os motivos são muitos.
     Eu realmente lamento se dexei todo mundo por cá numa sala de espera torturante. Eu voltarei! Hei de voltar!

      Com tanto tempo sem escrever por cá, pus-me a exercitar   os músculos de minha mão esquerda  nos meus vários papéis.  Acabei por descobrir que sempre achei mais prazeroso escrever  em máquinas datilográficas e que não vivo sem escrever nessas máquinas. O problema de escrever em máquinas datilográficas é que com elas passo mais tempo debruçado sobre mim mesmo, sobre minha existência, então canso-me rápido e o mundo transforma-se num tédio pedindo para ser sentido.

     Não esqueci que preciso resenhar livros e analisar músicas por cá. Li "Para Não Esquecer" de Clarice Lispector, e esse é o quinto livro que leio dela esse ano. Como senti-me um cientista a compreender o genoma humano ao olhar meticuloso sobre as lentes de um microscópio, fiz decidir que só leria "Um Sopro de Vida" depois de "Para Não Esquecer" esse ano.
     Enquanto o lia, marquei muitas crônicas que gostaria de postar aqui. Então, vai a primeira crônica marcada:

Futuro de Uma Delicadeza

 Mamãe vi um filhote de furacão, mas tão filhotinho ainda, tão pequeno ainda, que só fazia mesmo era rodar bem de leve umas três folhinhas na esquina...

 Até mais!

sábado, 8 de setembro de 2012

     Sala em frenesi e embaraçada de vozes discutindo sobre religiosidade na aula de história da música antiga. Curiosos acerca de seus parceiros acadêmicos, começam a perguntar sobre a religiosidade de cada um. Repentinamente, um aluno interrompe o interrogatório e faz a pergunta ao professor taciturno e observador:

— E o senhor, professor? Qual a sua religião?  — pergunta o aluno curioso.

— A música... — Responde o  professor à turma, que faz voltar, demonstrando um tanto de indiferença à curta e incisiva resposta do professor, a discutir novamente sobre religiosidade logo em seguida. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

     Absolutamente absurdo! Trinta alunos de escolas do  Governo do Estado de Pernambuco foram selecionados para receberem benefícios à educação acadêmica. Há cinco minutos atrás, enquanto estudava meu violino, recebo a notícia que estou entre os alunos selecionados.
     Estou pasmo e gélido nas mãos. Cada dia vejo dois caminhos distintos, um leva-me ao exterior e o outro à minha amada música. Será que conseguirei construir uma ponte para ligar ambos os caminhos. Mas a ponte apenas levar-me-ia para um dos caminhos. E se eu caminhasse não por um dos caminhos, mas pela floresta que os separa?

     Eu, de fato, estou curioso acerca de qual a minha posição no ranking. Há ranking, afinal? Depois de fazer muitos amigos, sorrir como doido, ficar em primeiro na seleção da master class com Kristopher Tong e ser um dos trinta alunos selecionados pelo Governo do Estado de Pernambuco só posso concluir que algo deve estar muito errado em minha vida. Este "eu" de já só pode ser um sobressalente errado do "eu" do que já foi.

     Desculpem-se se escrevi alguma cousa errada. É que isso ainda é um reflectere... e é que eu preciso voltar a estudar meu violino.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

     Quereria até escrever mais... — Quereria... Aliás, é o querer — Mas ainda estou com medo do que posso descobrir ao escrever aqui. Sequer vou contar as novidades, pois eu sei que hei de terminar escrevendo acerca do que não quero. Sobretudo, posso não escrever, mas ouvir. Ouço o pulsar e o hálito, ouço os corvos nas águas. É que ser-me dói a minha personalidade branca e transparente como o ar — o ar é branco? — e gélida como a água do mar.
     Tenho medo dos devires e esse já era um dos devires. Eu escrevo sobre o que tenho medo e o conheço no inconsciente — é que ser-me dói —. 
     Acabei de pensar no que não pretendia escrever por medo de descobrir como é sentir a dor aguda de ser-me, como falara. É que as dores agudas precedem a sobrevivência. Eu sou a sobrevivência de meus seres e por isso vivo.

     Terei uma master class  com o violinista norte-americano Kristopher Tong na sexta-feira dessa semana. Sorte para mim!

     Música do dia sugerida indiretamente pelo R. W.:

domingo, 2 de setembro de 2012

     "Não a executes, é o que deves fazer.Não a escutes e a possuirás. Não ames e terás dentro de ti o amor. Não fumes o teu cigarro e terás um cigarro aceso dentro de ti. Não ouças a Quinta Sinfonia de Beethoven e ela nunca terminará para ti."

Trecho da carta de Clarice Lispector para Hermengardo escrita em 30 de agosto de 1941.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

     Vamos a um pequeno resumo dos quatros primeiros dias da semana, já que costumo dormir quando escrevo cá no fim do dia.
     Ela esteve sendo de descobertas (encontrei peixes dourados na superfície do mar com pétalas de rosas brancas), conquistas, conflitos internos (eles não estiveram sendo comuns recentemente) e mudança repentina de alguns planos.

     Eu ainda continuo na superfície do mar existencial com pétalas de rosas brancas. Eu até arrisquei mergulhar, mas, apesar da confiança que sentia no ato de mergulhar e sair da superfície, eu engasguei de medo enquanto tentava ir mais fundo no mar. Então, eu volto para a superfície hesitando em fazê-lo novamente; depois eu decido que não mergulharei por mais uma vez nos próximos breves tempos, mas pude estar mais confiante para a próxima.
     Eu tentei descobrir os motivos do medo. Procurei e procuro... Acho, enfim. Por achá-lo, eu posso dizer que ninguém deve se decepcionar com as queimaduras após tocar as águas-vivas do mar existencial.
     
     Contar-vos-ei essa história realmente muito real:
     Ocorreu uma ininteligível  atração súbita quando vi as águas vivas passarem bem pertinho de mim. Estávamos em dimensões diferentes, mas eu podia percebê-las. Encantei-me e apaixonei-me por elas. E essa paixão misteriosa entre um mergulhador e água-vivas fez-me dedicar dia e noite para transcender à outra dimensão. A outra dimensão estava bem próximo de mim, bastava mergulhar. Entretanto, eu era o meu limite, eu era a minha pedra.
     Mas houve um dia, como quando nos primeiros momentos em que uma criança percebe que aprendeu a andar de bicicleta sem rodinhas auxiliadoras, que fechei os olhos e passei, de modo corajoso, para a outra dimensão.
     Eu só queria vê-las, apreciá-las e ouvir seus movimentos na água. Mas eu, sobretudo, desejava tocá-las e abraçá-las. Eu o faço, após vários dias de reflexão pessoal.
     Oh!, como doeu quando descobri a dor de tocar objetos de outra dimensão. Senti prescindíveis nevralgias até descobrir que as águas-vivas eram constituídas de apenas energia escura. E é claro que um ser constituído basicamente de carbono e proveniente d'outra dimensão(ou universo paralelo) só poderia sentir feéricas nevralgias. Ao menos essas feéricas nevralgias me levariam para conclusões incríveis acerca das águas-vivas: elas são surdas. Mas também concluí que nunca deverei tocar novamente em um ser de outra dimensão, e assim ficou o trauma. Esse é motivo do medo em ir fundo no mar existencial com pétalas de rosas brancas.
     Eu tenho sempre uma música para momentos em que lembro das águas-vivas e começo a pensar que não sou capaz. Aliás, acho que irei postá-la no fim do poste.

     Haverá replay da apresentação da semana passada. Amanhã terei um jantar com pessoas que tornaram-se especiais para mim.       Sim! O V. W, o Geraldo e o A. tornaram-se especial para mim.

     Agora, por fim, poderão apreciar a música para os momentos em que eu lembro das águas-vivas. Eu escolhi o videoclipe por ele ilustrar bem o que eu falei, mas eu prefiro a versão acústica. Em sequência, Shake It Out com a linda Florence Welch:

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

    Uma belíssima música para matina. Ela é uma das minhas favoritas de um dos meus mais estimados compositores de todos os séculos, Franz Peter Schubert.




Tenham um bom dia!

domingo, 26 de agosto de 2012

O Final de "Aventuras Quânticas no Transporte Público Brasileiro", BookTour da Evana Ribeiro e X Festival de Música Antiga de Recife/Olinda

     Antes de tudo, este poste é uma continuação do poste anterior. Isto ocorre pois eu limito meu horário de estar escrevendo cá. Se eu não cuidar, abandono o computador e passo o dia escrevendo com a mão. Também lamento a desorganização dos parágrafos. Eu realmente não escrevi daquela forma, mas houve algum tipo de erro no HTML, que é uma linguem desconhecida para mim.

     Ontem eu falara de sonhos, primeiro beijo e acabei indo falar da Evana Ribeiro. Eu continuarei os assuntos que foram citados no título desse poste. Entretanto, agora vamos falar de hoje.

     A apresentação fora portentosa. Ganhei dois "bravos" e alguns silvos. Ainda mais: não sei como descobriram, mas me deram um ramalhete de rosas brancas no final. Não postarei gravações, por ora. Eu tenho plano de postá-las na possível futura estreia de meu primeiro quarteto de cordas. 
     Foi tudo muito bom, como já dissera, mas estou aliviado por ter passado. O palco é sempre bom, principalmente quando se é um virtuoso. Como ainda não o sou, adoro acordar com o nascer do sol, passar o dia estudando e notar meu progresso antes de dormir.

     Já em casa, chá quente e ar indiferente. Torna-se uma grande surpresa ver um Alexandro na minha caixa de entrada. Sim, ele lê o meu blogue. Com sua permissão e com suas próprias palavras, posso dizer aqui que ele sentiu-se "honrado por ser descrito com tanta sensibilidade". Concluí junto com ele que aquilo fora apenas um "momento emotivo e platônico causado pela desfragmentação simultânea de duas almas civilizadas". Ele concordou plenamente em tornar-se um personagem de meus contos, e talvez até de uma futura novela numa cidade que até já escrevi sobre: Quimerolândia. E agora, chegamos em Fim.

     Alexandro, obrigado por ter-me deixado lhe encontrar.

     Eu terminei o poste de ontem falando do primeiro beijo e do blogue da Evana Ribeiro. Eu pensava em falar d'outro assunto quando terminei de transcrever "Promessa é Dívida".
     A Evana Ribeiro fora minha professora de inglês por alguns meses e a partir de seu modo de ensinar pude aprender um pouco sobre mim e as pessoas. Quando soube que ela escrevia, prometi que leria seus livros. O tempo passou-se e nada, mas eu nunca tirei seus livros da minha lista de leitura.
     Ao décimo segundo dia deste mês, pude ler em seu blogue acerca do booktour. Não hesitei em inscrever-me, mas eu ainda farei a inscrição.

...

     Posso continuar a escrever, pois fiz a inscrição no BookTour da Evana Ribeiro.

     Já que é o mês de aniversário da publicação de seu primeiro livro, o Saída de Emergência, e da estreia da série virtual O Fórum Joana Bezerra a Evana Ribeiro decidiu comemorar com muita leitura. Na verdade, presenteando seus leitores com muita leitura.
     No BookTour, poderemos ler Saída de Emergência e Helênicas ou apenas um desses livros. Para se inscrever é necessário preencher um formulário do link que eu postarei brevemente e cada leitor há de ter apenas 25 dias para ler o livro que receber em casa. 
     
     Pelo o que eu já li de Evana Ribeiro, é provável que eu leia tudo em duas tardes. Para vós eu a recomendo muitíssimo.
      Podeis fazer a inscrição no link do poste em seu blogue: http://www.roteirizando.com/2012/08/booktour-de-aniversario-saida-de.htmlLá, podereis encontrar mais informações acerca do BookTour, a sinopse de cada livro, o formulário de inscrição e outras informações importantes.

     Nos dez primeiros dias deste mês ocorreu o X Encontro de Música Antiga de Recife/Olinda e eu até falei brevemente acerca d'ele aqui.
     Antes de postar fotos, vídeos e narrar as histórias do dia 10 em Olinda irei transcrever dois parágrafos duma publicação avulsa acerca do encontro, distribuída nos dias dos concertos lá  no Convento, para aqueles que desejam saber do que trata o X Encontra de Música Antiga de Recife/Olinda. Podeis conferir:

" O ENCONTRO DE MÚSICA ANTIGA RECIFE/OLINDA começou em 1995, como uma iniciativa de  professores do Conservatório Pernambucano de Música para  criar um movimento de música antiga na região Nordeste. Recife e Olinda foram a escolha ideal para o encontro, pois historicamente foram centros maiores de música e arte no Brasil antes do Ciclo de Ouro.

Os quatro primeiros anos (1995 a 1998) foram de exploração e afirmação. Após um hiato de oito anos, o encontro foi retomado em 2007, no que é considerada sua fase de ampliação e relevância. Hoje podemos dizer que o ENCONTRO DE MÚSICA ANTIGA DE RECIFE/OLINDA é um  importante festival entre os eventos do gênero no Brasil."

     A música antiga no Brasil, ou em toda a América, ainda é estruturalmente rudimentar e eurocentrista — e não poderia ser diferente para um continente colonizado substancialmente por europeus. 
     Há, claro, as variações de desenvolvimento e fica como exemplo os americanos nortistas. Mas eles também são americanos, certo? Porém, uma sólida cultura só poderá atingir um alto nível de desenvolvimento em ambientes sociais, políticos e econômicos que o favoreça. País desenvolvido é quase uma garantia total de música desenvolvida. 
     No Brasil, não há tanto o apoio respeitavelmente estimado e muito menos exploração profunda da música antiga. Ainda há outro problema na música antiga no país: estamos presos  à música do  ocidente, apesar dos raríssimos registros da música indígena, que sequer podemos comparar com a música ocidental. 
     A cultura de uma civilização precisa possuir uma membrana, assim como a tal civilização precisa também dessa membrana, que a separe e a faça distinguir-se sem fazer-se romper o elo que liga uma cultura com a outra. A membrana faz permanecer a cultura dessa civilização viva, permitindo tornar a sociedade um colossal organismo vivo que luta em um ambiente hostil.
     Talvez, em dois mil anos, quando a civilização americana tiver solidificado sua história no tempo do planeta, teremos uma música antiga forte e ela será a nossa contemporânea. Mas isso é uma visão extremamente otimista para uma espécie suicida. 

     Apesar de todos esses gêneros de objeções para estabilizar a música antiga no Brasil, em especial Pernambuco, ela floresce lentamente — bom mesmo é quando todo esse jardim botânico se tornar petróleo em dois mil anos — e o X Encontro de Música Antiga de Recife/Olinda é um exemplo nordestino disso. Há duas décadas atrás não tínhamos grupos ativos de música antiga, vivemos em tempos musicais de certo modo primaveril. Isso é bom!
    
     Estamos em tempos rudimentares para a música antiga no Brasil e dizem que o ápice da época de reprodução dos dinossauros era na primavera. E a música, correntemente, vive em época primaveril. Então há reprodução. O público para a música antiga cresce. Fiquei feliz ao saber disso, ouvindo senhoras comentando que era o primeiro festival de música antiga que estavam presentes, enquanto eu esperava o Convento São Francisco abrir no último dia do concerto.

     Por fim, antes de contar como foi a minha apreciação, congratulo todos que fizeram e integraram o encontro.

     A semana em que ocorreu o encontro de música antiga fora assaz agitada. Eu absolutamente não tinha espaço na agenda naquela semana. Mas apertei tudo no metrô e consegui ir para o X Encontro de Música Antiga de Recife/Olinda.
     Inicialmente eu iria sozinho. Andaria pelo sítio histórico de Olinda e deixaria o vento bagunçar o meu cabelo, mas no fundo eu sabia que ficaria triste por não ter ninguém para ser guiado por mim no sítio histórico de Olinda. Sem dúvida, eu tomaria o ato decadente de apresentar tudo que eu já conheço de cor do sítio histórico para mim mesmo.
     Como eu já escrevera aqui, na mesma época houve muitos outros concertos quando igualmente eu estava conquistando uma nova vida social em razão da superação da timidez. No meio das conquistas sociais, conheci o Geraldo. Ele adora ir para concertos, então ele tornou-se meu companheiro de concerto.
      Eu o convidei quando soube que ele apreciava música antiga. Marcamos horário e local, enquanto eu planejava uma andança por Oh!Linda vespertinal.


     Um dia antes, na quinta-feira, faço averiguar se tudo o que eu planejei estava em ordem. Depois tomo uma atitude que deixar-me-ia decepcionado em Olinda: vou ler notícias astronômicas no http://www.apolo11.com/ e tive a ideia de querer ver o pôr-do-sol em Olinda, que, se não em engana a memória, seria às 17h16min. Para  que não ocorressem os tais inesperados eventos, eu liguei para o Geraldo contando o meu plano. Então marcamos um horário mais apropriado para fazermos todas as nossas atividades por lá.
     O dia estava belíssimo até eu chegar em Recife às 15h. Nesse momento, o céu encheu-se em trevas para molhar a terra e minha esperança hidrofóbica de ver o pôr-do-sol do Alto da Sé.
     Resignamos com a natureza, fomos para Olinda e  foi quase isso o que perdemos, ao menos naquele dia:



Foto oriunda do perfil da Cecilia Cabral no Facebook

Foto oriunda do perfil da Cecilia Cabral no Facebook

Foto oriunda do perfil da Cecilia Cabral no Facebook

Foto oriunda do perfil da Cecilia Cabral no Facebook


      É verdade, eu já vi esse pôr-do-sol várias vezes no mesmo local. Mas no dia dez, pela primeira vez, eu estaria acompanhado no momento do pôr-do-sol e eu simplesmente não resisto à beleza.
     Aquele não foi o dia. Haverá outro? Sim, quiçá.

     Continuamos a andança. Fomos em algumas lojas de artesanato, mostrei para o Geraldo muitas igrejas, subimos e descemos 18 ladeiras — sim, eu contei —, com algumas subidas e  descidas repetidas, dei aula de história da arte e arquitetura, e acabei interpretando algumas obras de artes quando fomos para alguns ateliês.
     A noite logo chega e estava na hora da aula de astronomia. Fomos para o Observatório Astronômico do Alto da Sé  e falamos sobre vida em Marte, o Curiosity, Nebulosas, o futuro do Sistema Solar, estrelas que ameaçam a vida na terra, vida alienígena   e sobre o futuro da humanidade — nesse ponto começamos a caminhar em territórios filosóficos —, então paramos por aqui.
    Apreciamos, ao sair do Observatório, o vento noturno de agosto. Depois fomos ao Encontro.

     No dia 10 de agosto era o concerto de encerramento de alunos e professores. Não era bem o que eu queria. Eu na verdade desejei todo o dia 02 e 07 de agosto ver o Sonoro Ofício e o Conjunto Músicos de Capella. Mais uma vez eu faço resignar com a situação, afinal foi só na sexta feira em que pude apertar a minha agenda no metrô. Ao menos eu vi o Xavier Julien-Laferrière, que já integrou La Petite Bande sob a direção do grande mestre e já falecido Gustav Leonhardt. De fato, só tive memória de que ele era um dos violinistas da foto do encarte de um dos CDs da minha discografia  de La Petite Bande no momento do baile renascentista, quando ficamos bastante próximos.
     Eu, que fiz balé aos sete anos de idade, danço novamente. A minha acompanhante foi bastante simpática dizendo que eu dançava muito bem. Na realidade, eu pisei algumas vezes nos pés dela. 
     Agora, só agora, fico atemorizado em pensar que talvez minha estrutura seja de concreto. Céus! Talvez eu esteja tão dentro dessa realidade que nem a percebera antes. Como se o cosmo fosse esférico e eu por ser pequenino demais não posso perceber a esfericidade do cosmos. Não, não sou de concreto. Não! Sou de átomos, portanto o sou e não sou.

     Parando por aqui, vamos ver alguns dados visuais do baile e do Encontro:

Baile Renascentista após o Encontro.   Foto oriunda do perfil da Cecilia Cabral no Facebook .

Baile Renascentista após o Encontro.   Foto oriunda do perfil da Cecilia Cabral no Facebook .

Foto após o Encontro e o baile com a maioria do pessoal que integrou o encontro. Foto oriunda do perfil da Cecilia Cabral no Facebook.
Plateia durante o encontro.  Foto oriunda do perfil da Cecilia Cabral no Facebook. 
Músicos interpretando El Fuego do compositor renascentista espanhol Mateo Flecha.  Foto oriunda do perfil da Cecilia Cabral no Facebook .
Músicos interpretando o Stabat Mater do compositor barroco italiano Antonio Caldara.  Foto oriunda do perfil da Cecilia Cabral no Facebook.

    Para mim, o ápice das apresentações do último dia do Encontro foi o Stabat Mater de Antonio Caldara interpretado pelo Coro e Orquestra do Encontro e a ensalada para quatro vozes El fuego de Mateo Flecha.

     Eu fiz uma compilação de vídeos postados no YouTube acerca do Encontro de Música Antiga. A maior parte desses vídeos foi postada pelo Cayo César em seu Canal do YouTube. Podereis ver dezessete vídeos do X Encontro de Música Antiga aqui: http://www.youtube.com/playlist?list=PL773F8DC8EDE4B698&feature=mh_lolz

     Margot, dessa vez eu estou em duas das fotos que eu postei. Apesar disso, meu rosto não fora revelado.