Eu sei. Sou um ser que sumiu da "Blogsville" agora. Estou atrasado nos comentários e leituras dos blogues que costumo ler.
Após a mudança de residência do dia 15, fiquei desconectado da Rede. Não está sendo muito difícil. Ando a escrever cartas e a anotar em meu fichário para amainar a distância de cá.
Eu vos responderei nos comentários, sem dúvida.
Observo, só agora, que existem certas características em meu blogue que fazem parecer com a estrutura de uma música erudita comum anterior ao século XIX.
Eu começaria a explicar em grandes parágrafos todos os pormenores que fazem-me pensar assim e todos os pressupostos que levaram-me ao pensamento tal, além de descrever todas as características presentes no objeto principal do meu pensamento. Fá-lo-ia, pois agora controlo o que escrevo. É... mas a entrelinha ainda domina o que escrevo, e tenho prazer nisso.
Lembram do meu amor de "Te Mereço", de "Conversa Comigo Mesmo", da concha e de vários outros momentos de cá? Confessamos que nos amamos. Mas confessamos sem citar a palavra "amor", pois ainda temos medo dela como em "O Segredo" de Clarice Lispector.
Nessas confissões, a partir duma carta, nasceu a ideia de escrever um conto. Eu o chamei de "Ar e Água". Há jardineiros, um esposo morto, uma viúva depressiva, viagens para a Itália e talvez ele tenha monges e o reencontro da felicidade após uma grande perda. Ele será dedicado para a pessoa que eu amo e só os indivíduos que verdadeiramente me conhecem saberão que ele é a maior declaração de amor que já fiz para alguém.
Eu só fiz uma declaração de amor até hoje. Não, duas. A primeira ocorreu quando eu tinha dez anos. Envolveu rosas vermelhas, poema e a garota mais bela da sala que se parecia, segundo eu, com Kate Winslet. A segunda declaração só envolveu mãos e olhos negros e verdes. Parece pouco, mas foi uma relação intensa. Ela foi sensivelmente íntima. Ele era violinista e parecia um anjo. Eu segui em frente e ele ficou no curso de Engenharia com um grande armário e histórias para contar.
De quando em quando encontro o violinista que se parece com um anjo. As mãos até já pediram algo, mas só o olhar tímido diz "Olá" na livraria quando fazemos desviar nossos olhos do livro que pretendemos comprar. Foram bons tempos. Ainda bem que os vivi. Aí sobra a nostalgia, é gostoso sentir ela.
Doeu após retirar de mim, como se tira víceras de um leão vivo e pulsante, os sentimentos que por ele possuía. Apesar de tudo, não acreditei que, como o despertar de um sonho ameaçador pela luz matinal do sol, eu pudesse superar tudo tão rapidamente. Superei, bravamente.
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O primeiro fluxo para. O primeiro fluxo pára. Parei de pensar — mentira! —.
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