quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A Garota Sonhadora e o Primeiro Beijo

    Ao vigésimo dia deste mês eu escrevi um poste, mas a natureza não permitiu terminá-lo. Salvei-o como rascunho, então eis o início do que seria um poste:

     "É pelo motivo de ainda preservar os ideais deste blogue que escrevo este poste.

     Hoje, o professor ajudou-me a realmente fazer o discurso a partir de " A Pedra Verde na Música de Luiz Gonzaga e o Mundo". Ele fora muito importante para por ordem em minha criatividade anarquista. Está tudo indo muito bem, e não é naturalmente.
     Como Clarice Lispector ao escrever para o Jornal Brasil ..."

     Eu não faço memória mesmo para continuar a expressar aqui o que eu falaria de Clarice Lispector. Tudo indica que eu explicaria as origens do novo título do blogue e os motivos que levaram-me a criar o Reflectere. Logo, eu falaria  d'uma petiz de Cabo Verde — disso eu lembro mesmo.

     Após alguns descobrimentos que mudaram meu humano, faço outra descoberta.  Ela é exatamente essa: De Passagem. Não é uma grande descoberta, mas é como descobrir uma pequena cratera na penumbra do pólo sul da lua. O blogue não foi de todo excepcional, o que realmente o foi esteve na descoberta de um vídeo postado pelo autor do blogue, o(a) Marte. Esse é o vídeo:

     
     Molho a cútis de água salgada facilmente. Porém, eu não a molhei dessa vez. Foi bizarro — e "foi bizarro" é pouco para mim, mas por vezes é necessário tomar um ar na superfície do mar. E é o que eu faço agora. O problema é o medo de mergulhar fundo depois. Mas isso superamos. Juntos superaremos. —, foi muito bizarro! A minha mãe viu o vídeo comigo e molhou a cútis. Foi nesse momento que não senti-me humano, enquanto sentia silenciosamente as dores da garota.
     "Qual é a paisagem sob o céu rosa escondido dentro daquele tímido e sorumbático olhar?" — indaguei-me absorto.
     Eu ainda não descobri. Mas a minha mãe, que tem sempre  magnas ideias, acabou por ter uma após um momento de distração com os papéis sobre a mesa do computador.
...
Desculpem-me... É que escrever apreciando música tornou-se um hábito úmido e gosmento, isto é, necessário para a vida de escrever. Fiquei com vontade de apreciar música antiga, especialmente a grega. Então eu decidi que esse disco da Ensemble Melpomen seria o ideal. Voltando à garota...
     Minha mãe pensou em encomendar um magnífico bolo rosa e solicitar uma entrega para a tal garota sonhadora.
     Continuei em silêncio e ele dizia: " Mãe, como eu tenho orgulho de ti!"
     De fato, antes de dormir arrependi-me por não ter expressado em som o que meu silêncio queria dizer. Como pude? 
     Naquele mesmo dia, antes de sair de casa, disse-me ela que sentia muito orgulho de mim.
     Eu não pensei em expressar o orgulho que sentia por ela, não mesmo, e não entendo o motivo. Não obstante disso, fiz expressar assentimento com a ideia e prometi pesquisar acerca d'ela e encontrar meios para a realização do sonho da "Garota Sonhadora". É meu dever.
     Quando em criança, eu sempre quis ajudar a humanidade de algum modo. E tinha o sonho de falar mais  línguas do que o João Paulo II. Hoje, sei eu que poderei chegar aos 30 anos falando no mínimo 8 línguas. Ainda guardo muitos sonhos de infância, um deles é ter uma enorme biblioteca e convidar pessoas que gostam de ler mas não possuem dinheiro para comprar tantos livros. Mas há um maior, um sonho tão grande que não cabe na cabeça de todos os animais pensantes do planeta: levar a música erudita sinfônica para as crianças dos pontos remotos desse grande pedaço de rocha. E, por fim, sonhei algo novo recentemente: passar os meu últimos dias de vida numa tribo indígena e morrer ser humano, após a minha longa jornada existencial num deserto que eu chamo de "Vida".
     Sou um assíduo observador, sinto as pessoas e noto suas idiossincrasias que fazem-me, de algum modo, descobrir o mundo. Entretanto, sou tão tímido quanto o personagem de Clayton Froning no curta Park Bench que o Cesinha postou em seu blogue no começo do mês e isso faz retardar qualquer gênero de evidente reação minha para as atitudes das pessoas. Essa tal introspecção faz-me, em tempos de tomar ar na superfície do mar com pétalas de rosas brancas, ter medo de ir fundo onde a correnteza deseja levar-me.
     E parece que tudo hoje está levando-me para um assunto perseguidor de mentes leves no ar sobre o mar com pétalas de rosas brancas: o primeiro beijo.
     Eu nem queria falar acerca d'ele... Na matina, ao ler o blogue da Evana Ribeiro deparei-me com um poste sobre o primeiro beijo. Mais tarde, no intervalo da escola de meus estudos acadêmicos regulares a vice-representante de turma perguntou-me se o meu primeiro beijo já ocorreu. Eu disse que não, sem ruborizações. Ela fitou-me como para candidatar-se, então eu prontamente respondi que eu não poderia beijar a minha vice-representante de sala. Foi o fim para ela. Quando, enfim, durante a noite, o tema "primeiro beijo" persegue-me na aula de inglês. Então: "É verdade que eu nunca parei para pensar acerca de como ele será? " 
     É verdade, eu nunca beijei ninguém. Nunca senti os lábios de algum outro ser humano — se tartarugas possuem lábios, então eu já beijei a Nicole quando em criança —, apesar de já tê-los descrito de modo parcial em Bolhas de Papel. E Ainda descrevo um pouco o amor em Non Ti Scordar Di Me. O fato é que, ao ver o manuscrito em um dos meus fichários, posso dizer que eu os escrevi aos 13 anos de idade. Não pode ser, aos treze anos escrevi acerca d'algo que agora sinto-me embaraçado ao escrever novamente.
     Após a aula de inglês, eu tomei uma atitude que mudaria o meu pensar acerca do meu primeiro beijo.
     Eu cumprimentei a Evana Ribeiro; bebi uns seis copos de água e prometi para ela que faria um poste acerca de seu booktour. Ela ficou surpresa em saber que eu tinha um blogue. Na verdade, eu  já tive um outro blogue. Ele era acerca de Astronomia.      Em casa, eu volto ao blogue dela pra — aqui eu sou influenciado pelo modo suave de escrever que a Evana Ribeiro tem — pegar as informações ao meu poste; a página sobre e desce; não resisto e leio novamente o poste acerca do primeiro beijo.
     Eu não sei quando ele será. Mas há de ser especial, e também há de ocorrer naturalmente. Além de tudo isso, o que eu mais desejo é que ele faça durar para sempre como o beijo que a Evana Ribeiro descreveu.
     Em sequência, transcrevo o poste Promessa é dívida da Evana, que é uma escritora excelente e incomum em meio ao estilo dos escritores "perrnambucanos":
     "Ainda mais quando você se promete a alguém. Hoje, mexendo em uns livros e vídeos antigos, parei para lembrar daquele dia que ficou registrado na fita número 3 da Nadia.
Havíamos completado 8 anos há pouco mais de uma semana e estávamos, minha irmã e eu, brincando com nossos presentes no playground do prédio onde vivíamos com mamãe e nosso padrasto. Nadia tinha ganhado uma câmera de vídeo. Eu, um par de patins. E a gente ficava lá a tarde inteira depois da escola inventando história para fazer filmes, novelinhas, essas coisas... Para assistir a tudo mais tarde.
Nosso filme daquele dia era inspirado na novela das 8: a mocinha havia sido prometida contra a vontade dela a um garoto filho de família amiga; mas o coração dela queria pertencer a outro rapaz etc. Aquela novela que todo mundo já viu. A mocinha era eu. O meu "noivo arranjado" era o primo Nikolai, que tinha vindo passar um mês com a gente. Nossas mães eram Nadia e Natalia, a irmã mais velha do Niko, que já era uma aborrecente mas ficava com a gente porque alguém tinha que ficar de olho.
E Daniel era o mocinho que vinha roubar meu coração que, no filminho, estava amarrado a uma promessa. Ele não estava na brincadeira, só para constar. Daniel era então namorado da nossa irmã postiça, Isabel; e eu suspirava por ele toda vez que ele ia lá no prédio para ver Isabel.
Eu mal tinha completado 8 anos; ele tinha completado 23 uns dias antes do meu aniversário.
Quando Dan saiu do elevador e cruzou o play, a gente estava fazendo uma cena em que a minha mocinha se lamentava pelo destino de casar sem amor. Nessa hora ele passou e quase estragou a brincadeira dizendo "oi, turminha". Mas eu, sabe-se lá como, qual foi o impulso, levantei do banquinho e fui até ele.
- Daniel, posso te dizer um negócio?
- Fala, Tininha.
- Quando eu crescer, a gente vai se casar.
Obviamente, ele riu. Eu era só uma menina de 8 anos que ele via patinar no playground dia sim, dia não; eu era só a irmãzinha bebê da namorada dele. Uma namorada com quem ele vivia brigando, e rompendo, e reatando... Ele riu, passou a mão nos meus cabelos e foi embora num fusca verde-garrafa. Para ele, tinha sido uma coisa de pirralha que seria esquecida assim que eu cruzasse o portão da escola no dia seguinte e visse o garoto mais bonito da sala. Para Nana, era uma cena muito bem filmada. Para mim, era a promessa mais séria já feita.
O tempo passou, aquela fita acabou e foi para a estante, outras vieram para nossa enorme coleção, crescemos e completamos 15 anos. Ele completava 30 uma semana antes e, no dia do baile de debutante, foi meu príncipe - pedido meu, e ele, que há uns seis anos já não é mais meu cunhado postiço, aceitou prontamente.
Meia-noite e meia, saímos do salão.
- Você tá muito linda. A fila de pretendentes deve estar bem grande, né?
- Bem, depende do referencial. - eu ri.
- Lembra que um dia você disse que a gente ia se casar? Eu ia acabar quebrando a cara com esse monte de moleque correndo atrás de você...
- Mas eu lembro! Tô espantada é de você lembrar.
Nisso eu olhei para o chão, meio envergonhada como toda adolescente fica quando a lembram das besteiradas da infância. Devo ter ficado vermelha também, mas isso a maquiagem abafou.
- Te vendo agora, lembrei.
Dan tocou meu queixo, me fez olhar pra ele e sorriu. Parecia dizer com o olhar que estava disposto a cobrar a promessa. Foi assim o meu primeiro beijo.
Uma história para contar para os filhos, não? Foi o que disse a ele na noite do casamento, seis anos depois do primeiro beijo. Para minha irmã, disse que aquele filme da fita número 3 tinha sido o melhor já feito, porque não tinha acabado junto com a fita."   22/08/2012