Descobri que o nome da cachorra da vizinha se chama Susie. Susie é o nome da minha antiga vizinha que muitíssimo gostava das minhas horas de estudo musicais.
Recebi a carta mais esperada da semana. Já a li sete vezes. Li enquanto escutava Schubert, era um de seus primeiros quartetos de cordas. Após lê-la pela terceira vez, decidi que estava na hora de pôr um vinil com dois concertos para trompa de Mozart. Por mais divino que ele seja, apercebi-me que não era suficiente. Pus, então, músicas angelicais de Schicco Salles. Quando a pus, tomei consciência da minha inquietação interior.
Faz quinze minutos que tomei um banho. Com essa confusão interior em mim, tomarei outro, completamente em silêncio.
Tenho concerto após o ocaso. Não quero mesmo ir. Eu tenho certeza que é por causa dessa minha confusão interior.
Vou ao concerto. Porei meu melhor traje e farei tudo como manda o figurino.
Para piorar tudo, a pessoa mais importante da plateia não estará lá. Acabo de receber a notícia via correio eletrônico que ele terá um jantar. Eu respeito. Ainda bem que eu decidi que não me declararei, pois prometi a mim mesmo que, se, por desventura nossa, ele, a pessoa mais importante da plateia, não fosse, eu distribuiria todas as rosas brancas para as pessoas no Hall do Teatro; e mesmo que eu sofresse, não seria solista nem mais uma vez na nossa relação — eu não queria mesmo me prometer não ser mais solista, mas, de vez em quando, eu faço essas pequenas promessas que dificilmente faço cumprir. De fato, eu sei, sem querer admitir, que seria solista mais inúmeras vezes por ele — . Seríamos parceiros de orquestra sinfônica, e só — agora, depois do que escrevi anteriormente, sabeis que é mentira —.
Estou bem melhor. Agora compreendeis o que eu quis dizer aqui quando disse que escrever e tomar banho são dois modos de sobrepujar — palavra favorita em ação — a efêmera mediocridade da vida?
Dei aulas de astronomia para o meu pai hoje; depois eu lhe ensinei a usar uma bússola. Sinal que o nosso relacionamento está melhor. Isso é ótimo, pois eu não queria não ter um pai.
Estou querendo encontrar o F. G. no concerto, o teólogo italiano que me fez adicionar mais cinco cidades do norte da Itália para serem visitadas no futuro.
Um abraço, meus caros.
P.S.: a pessoa mais importante da plateia agora se vai para longe de mim dizendo: "um abraço do tamanho do planeta Terra". E aí, então, eu fico com medo, pois ele morrerá se tentar me abraçar grandemente. A pensar que eu dei a ideia do abraço do tamanho do planeta Terra, sentir-me-ei extremamente culpado se ele morrer na tentativa de me abraçar grandemente.