sexta-feira, 23 de novembro de 2012

     Desespero total! Meu pai, que nunca se relacionava comigo, apercebeu-se que logo me perderá de vista. Ele quer muito uma chance, mas agora é impossível — carpe diem, meu caro! —. Eu tenho dois meses para cumprir meu cronograma de progressão técnica para se apresentar a uma banca de avaliadores excepcionais. Além disso tudo, tem as apresentações, elas simplesmente explodem em fim de ano. Não terei tempo para dar a atenção que ele merece, não agora. Vou ter calma e deixar acontecer.

     Essa semana fiquei preso na área restrita de uma biblioteca da minha cidade. Para acessar a tal área restrita era necessário agendamento. Aquele foi meu quinto agendamento. Eu agendei uma consulta para a décima quinta hora do dia. Eu sabia que seria minha última vez naquela biblioteca, pois o fechamento da tal já era notícia muito bem divulgada. Então, claro, eu precisava mais do que nunca acessar a área restrita e obter alguns dados acerca da família que fundou o Cabo de Santo Agostinho.
     O expediente da biblioteca comumente terminava às 20h, mas naquele dia terminaria às 17h — alguém tocou a campainha. Tamanho fora o susto quando vi aquela senhora suada e queimada pelo sol e que deveria estar por muito tempo em andanças a pedir-me uma ajuda. Isso nunca, nunca mesmo, ocorreu na região onde eu moro. Após o susto, ajudei-a; depois lamentei-me por ser apenas humano. Mas se fosse Deus, clamaria para não existir. A Terra é uma piada suja. Quando não são as religiões e as divindades, são as artes que fazem amainar a angústia da solidão cósmica —. Nem um funcionário sequer avisou-me que o expediente acabaria às 17h, se é que mais de uma bibliotecária notou minha pessoa — observai que todas as bibliotecárias do mundo me amam muito, por diversos motivos.
     Após mais de uma hora e trinta minutos de pesquisa, fiz dormitar. O fato que permitiu isso foi a minha inocência e despreocupação com a tempo que, para mim, só para mim, havia muito.
     Eu acordei cerca de uma hora depois sob uma escuridão monstruosa. Gritei e gritei. Quase chorei. Percebi que tinha pavor da escuridão. Apesar de tudo, desesperar-se não era a melhor atitude. Então eu fiz jogar todo o material que estava sobre a mesa no assoalho e deitei-me sobre ela. Fechei os olhos  e liguei para os bombeiros. Fiquei esperando cinquenta minutos com  os olhos fechados escutando trechos de músicas no meu cérebro — só consegui lembrar de duas música completas. Acho que são minhas músicas favoritas. Postá-las-ei por cá em quaisquer dias desses —.
    O fim: fui resgatado e até meu tio, um líder político muito ocupado, abandonou sua agenda para ir até o local. Todos ficaram estupefatos com a negligência dos funcionários públicos. Não estarão a trabalhar em breve naquele local, muito provavelmente. Passo bem.

     Amanhã tenho uma festa de "ressaca halloween" para ir. Eu iria apenas para agradar G. V., a anfitrioa. Eu seria o único parceiro acadêmico dela que estará presente na festa. Sei o quanto seria decepcionante sentir a ausência de pessoas importantes num momento importante. Numa única manhã, a minha mãe gastará R$600 — sem mencionar o motorista que me acompanhará em tudo e todas as outras coisas desnecessárias — comigo nalgo que eu nunca gastaria: fantasia para festa de halloween. Estou pensando em não ir para gastar o dinheiro com livros. Sério, eu posso vestir um black tie, mandar alguém fazer uma capa "macabrosa", pesquisar maquilagens vampirescas na Rede, maquiar-me e ir de vampiro. 

     Carpe diem para mim é ler um livro, ir a um museu e fazer umas loucuras de vez em quando (perder os sapatos num jardim e entrar descalçado na abertura de uma ópera é um mui bem vivido exemplo).

    Aqui está uma das músicas que eu lembrei quase que de modo completo na biblioteca:


P. S.: Tenho medo de perder algo importante na festa. Sinto que encontrarei alguém muito especial. Dessa vez, não será como o A., que se tornou um de meus personagens nostálgicos. Mas não gastarei 600R$ em fantasias, francamente. Um absurdo! E vou de auto-carro, na volta eu pego um táxi pois estará tarde para um rapaz de 16 anos.