domingo, 19 de agosto de 2012

Eu desejo duas cousas nesse exato momento: não passar da trigésima página em minha carta ao meu professor e viajar para as cidades de Florentia, Venezia, Roma, Verona e San Gimignano.

A Paixão Segundo G.H., "A Pedra Verde na Música de Luiz Gonzaga e o Mundo" e Peer Gynt

     À apreciação da música incidental Peer Gynt do compositor norueguês Edvard Grieg com a Estonian National Symphony Orchestra, cuja citada obra é uma musicalização duma peça teatral de cinco atos do dramaturgo moderno norueguês Henrik Ibsen. Só a aprecio e escrevo, vou deixar análises para depois. Digo, antes de dizeres que não conheceis a obra, que vós a conheceis mui bem. E eu hei de provar no final do poste.
     
     Eu não deveria estar cá, pois estava a terminar de ler A Paixão Segundo G.H. de Clarice Lispector. Mas eu desejei escrever   um pouco, então...
     Esse é um livro que deixou-me com um espanto infantil estrondoso de mudez e uma certa consternação, e talvez até senti-me exasperado no primeiro contato chocante com a nova realidade que a escritora abordava. Antes de lê-lo achava-me humano, primitivamente humano. Mundano, celeste e necessário. Mas Clarice, mais uma vez, transgrediu-me e fez-me transcender. Perdi-me pela encanação do prédio; desorganizei-me e morri. E por morrer é que estou vivo escrevendo para vós. Bom, outro dia eu o resenho para vós, já que eu sequer terminei de lê-lo.
     Por fim, assim como minha amiga, a Geovana Germano, que disse que eu deveria lê-lo o quanto antes possível, me convencendo com a sua narração do limiar irreal e ilógico da estória de Lispector, digo para vós que esta é uma leitura altamente recomendável. Aliás, ela é uma leitura altamente recomendável principalmente para aqueles que já possuem alma formada.

    É entre a Literatura e a Música onde eu vivo. Uma começa quando a outra termina, respectivamente. De modo natural, um bom compositor, assim acredito, deve dominar ambas. Eu trabalho e estudo para dominá-las, é um de meus objetivos finais enquanto organismo vivo neste planeta.
     Como já falara aqui, a 23 de agosto farei uma apresentação na câmara municipal. É a segunda vez que sou convidado, ou seja, um honra para mim. Como parte da preparação do repertório, eu estava a fazer um arranjo para piano e violino d'algumas músicas do conterrâneo Luiz Gonzaga, já que irei honrar a arte armorial por lá no centenário desse artista "perrnambucano". Eu irei falar algo, claro, antes de minha apresentação.

"Que tal fazer um discurso antes de apresentar os músicos que hão de me acompanhar?" — pensei.

     Após ter pensado no discurso, tive a magna ideia de transcrever uma redação da verificação bimestral de aprendizagem que fugiu das regras estruturais — meu professor diz que sou rebelde e anarquista escrevendo e compondo, então o céu para mim está na prática da obediência ao escrever e compor — que fugiu das regras estruturais para um discurso. Isso é algo como " eu sou bom em poesia, mas preciso melhorar no poema", segundo disseram-me.

     Agora, ao retirar o rascunho da redação, que foi o primeiro, de meu fichário tento analisar qual o título que dei eu para ela. Olho atentamente para a margem superior da lauda procurando o título, mas encontro apenas a anotação do número de linhas disponibilizados na verificação de aprendizagem: "27 linhas".
     Revirando o baú mental, posso quase ter certeza que o título era " A Pedra Verde na Música de Luiz Gonzaga e o Mundo", então fiquem com "A Pedra Verde na Música de Luiz Gonzaga e o Mundo — por divino obséquio, comente se pensares nalgum novo título — :

     " Luiz Gonzaga representa, ao mesmo tempo que é festivo e noturno em sua obras, o âmago e a cerne da alma nordestina não só para o Brasil, mas outrossim ao mundo.
     Nós sabemos o quão exímio foi ele em sua arte, e isso fê-lo mostrar além das vivacidades festivas das terras de cá. Ele foi um artista cujo apogeu musical vivenciou o estabelecimento da soleira do templo do Movimento Armorial de Ariano Suassuna, onde as artes eruditas e populares bailavam juntas e onde o divino e transcendental  faziam bailar com o humano e o visceral. Isso, sem dúvida, o influenciou e o fez  mostrar o quão verdes são as nossas pedras, que nas bandas de cá existem em  excesso.
     A prova da influência do eruditismo, algo que o eleva para outro patamar,  em suas obras está na mudança de tons, de Sol Menor para Lá Maior, como exemplo, que brotam inúmeras vezes nas músicas compostas por ele e Humberto Teixeira  a partir da década de 50, quando era germinado o Movimento Armorial. Apenas ótimos compositores fazem essa proeza de mudança de tom numa música em prol da harmonia. A crítica social em ABC do Sertão é outra prova da influência do modernismo erudito, que vê a arte com propósitos sócio-estéticos.
     Ele faz tornar mundial sua música em Pagode Russo em Sol Menor, onde o motivo do tema principal é inspirado, mesmo que inconscientemente, em populares músicas das noites  russas czaristas  em bordéis, que também inspirou o grande compositor russo Tchaikovsky, a obra do último citado, por sua vez, muito relacionou-se com as pinturas abstratas de Kandinsky.
     O erudito Rafael Garcia diz que ele é um dos maiores compositores entre os eruditos e populares da música nacional. Eu digo que ele quebrou nossas pedras verdes e espalhou pelo mundo, ele fez a Terra da Pedra Verde ganhar o mundo.  Amém!"

     É, ao escrevê-la novamente vejo que preciso fazer algumas modificações e também noto que viajei alguns séculos escrevendo-a. 
     Deu para notar o repertório? Ainda terá Chanson Triste de Tchaikovsky (a interpretação do link com o Bratza é minha favorita).

     Pararei por cá mesmo. Amanhã escreverei acerca do X Encontro de Música Antiga de Recife/Olinda e do BookTour da Evana Ribeiro.

     Acho que não é só hora da prova, é hora da evidência. Com vocês, Morning Mood da obra incidental para orquestra sinfônica composta por Edvard Grieg: