sábado, 29 de setembro de 2012

A Inacabada

     Ela marcou a minha vida. Quase tanto quanto ele. Ele, por sua vez, provou que eu podia amar. O segundo movimento dela, mostrou-me que as angústias do primeiro movimento são superáveis.
     Ela é a Sinfonia No. 8 em Si Menor do compositor germânico Franz Peter Schubert. Ele... Ele é só ele mesmo.

     A primeira vez que a apreciei em direto foi ao dia 18 de Setembro no Teatro Santa Isabel com a minha amada Orquestra Sinfônica Jovem do CPM. Meu professor particular, chefe de naipe, estava a interpretar também. André Muniz, regente convidado do concerto,  conduziu muito bem a orquestra na interpretação d'A Inacabada.

     Ela, a Sinfonia, fez-me emocionar e molhar a face de lágrimas no primeiro movimento. Memórias e memórias. Sentimentos e palavras. A agudez dos momentos mais noturnos da vida.
     Já no segundo, lembrei que podemos transformar as agudezas em canções de ninar. As lembranças também trouxeram para a consciência que existem raios solares para quebrar a escuridão da noite. E de novo chorei.
     Eu não resisto e vocifero "bravo" no final. É claro que ele existe para cousas extremamente excepcionais, mas até a menos notável beleza torna-se excepcional para mim.

     Vai, em sequência, a interpretação completa da Oitava Sinfonia de Schubert. Bom deleite!


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

     Estou atrasado no mundo virtual, eu sei. Estou atrasado em todo o mundo virtual. Os motivos são muitos.
     Eu realmente lamento se dexei todo mundo por cá numa sala de espera torturante. Eu voltarei! Hei de voltar!

      Com tanto tempo sem escrever por cá, pus-me a exercitar   os músculos de minha mão esquerda  nos meus vários papéis.  Acabei por descobrir que sempre achei mais prazeroso escrever  em máquinas datilográficas e que não vivo sem escrever nessas máquinas. O problema de escrever em máquinas datilográficas é que com elas passo mais tempo debruçado sobre mim mesmo, sobre minha existência, então canso-me rápido e o mundo transforma-se num tédio pedindo para ser sentido.

     Não esqueci que preciso resenhar livros e analisar músicas por cá. Li "Para Não Esquecer" de Clarice Lispector, e esse é o quinto livro que leio dela esse ano. Como senti-me um cientista a compreender o genoma humano ao olhar meticuloso sobre as lentes de um microscópio, fiz decidir que só leria "Um Sopro de Vida" depois de "Para Não Esquecer" esse ano.
     Enquanto o lia, marquei muitas crônicas que gostaria de postar aqui. Então, vai a primeira crônica marcada:

Futuro de Uma Delicadeza

 Mamãe vi um filhote de furacão, mas tão filhotinho ainda, tão pequeno ainda, que só fazia mesmo era rodar bem de leve umas três folhinhas na esquina...

 Até mais!

sábado, 8 de setembro de 2012

     Sala em frenesi e embaraçada de vozes discutindo sobre religiosidade na aula de história da música antiga. Curiosos acerca de seus parceiros acadêmicos, começam a perguntar sobre a religiosidade de cada um. Repentinamente, um aluno interrompe o interrogatório e faz a pergunta ao professor taciturno e observador:

— E o senhor, professor? Qual a sua religião?  — pergunta o aluno curioso.

— A música... — Responde o  professor à turma, que faz voltar, demonstrando um tanto de indiferença à curta e incisiva resposta do professor, a discutir novamente sobre religiosidade logo em seguida. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

     Absolutamente absurdo! Trinta alunos de escolas do  Governo do Estado de Pernambuco foram selecionados para receberem benefícios à educação acadêmica. Há cinco minutos atrás, enquanto estudava meu violino, recebo a notícia que estou entre os alunos selecionados.
     Estou pasmo e gélido nas mãos. Cada dia vejo dois caminhos distintos, um leva-me ao exterior e o outro à minha amada música. Será que conseguirei construir uma ponte para ligar ambos os caminhos. Mas a ponte apenas levar-me-ia para um dos caminhos. E se eu caminhasse não por um dos caminhos, mas pela floresta que os separa?

     Eu, de fato, estou curioso acerca de qual a minha posição no ranking. Há ranking, afinal? Depois de fazer muitos amigos, sorrir como doido, ficar em primeiro na seleção da master class com Kristopher Tong e ser um dos trinta alunos selecionados pelo Governo do Estado de Pernambuco só posso concluir que algo deve estar muito errado em minha vida. Este "eu" de já só pode ser um sobressalente errado do "eu" do que já foi.

     Desculpem-se se escrevi alguma cousa errada. É que isso ainda é um reflectere... e é que eu preciso voltar a estudar meu violino.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

     Quereria até escrever mais... — Quereria... Aliás, é o querer — Mas ainda estou com medo do que posso descobrir ao escrever aqui. Sequer vou contar as novidades, pois eu sei que hei de terminar escrevendo acerca do que não quero. Sobretudo, posso não escrever, mas ouvir. Ouço o pulsar e o hálito, ouço os corvos nas águas. É que ser-me dói a minha personalidade branca e transparente como o ar — o ar é branco? — e gélida como a água do mar.
     Tenho medo dos devires e esse já era um dos devires. Eu escrevo sobre o que tenho medo e o conheço no inconsciente — é que ser-me dói —. 
     Acabei de pensar no que não pretendia escrever por medo de descobrir como é sentir a dor aguda de ser-me, como falara. É que as dores agudas precedem a sobrevivência. Eu sou a sobrevivência de meus seres e por isso vivo.

     Terei uma master class  com o violinista norte-americano Kristopher Tong na sexta-feira dessa semana. Sorte para mim!

     Música do dia sugerida indiretamente pelo R. W.:

domingo, 2 de setembro de 2012

     "Não a executes, é o que deves fazer.Não a escutes e a possuirás. Não ames e terás dentro de ti o amor. Não fumes o teu cigarro e terás um cigarro aceso dentro de ti. Não ouças a Quinta Sinfonia de Beethoven e ela nunca terminará para ti."

Trecho da carta de Clarice Lispector para Hermengardo escrita em 30 de agosto de 1941.